Mata-Burro: Apostando na sobrevivência do underground

Foto: Divulgação
O Blog Inforock entrevistou a banda de hardcore palmense Mata-Burro que lançará seu primeiro álbum intitulado " O Preço da Vida" em agosto. Com mais de sete anos de estrada no cenário musical, Mata-Burro passou por diversas formações, mas atualmente tem Ithalo Silva " Kid Kodó" comandando os vocais, Emerson "Bento" no baixo, Thiago " Tubarão" na guitarra e o mais novo integrante do quarteto hardcore, Maurício Sales na bateria.

Em uma conversa espontânea e nostálgica, a banda contou sobre os mais diversos momentos da banda desde sua criação em 2007, com direito a muitas risadas e algumas reflexões. Confira a seguir um pouco desse papo:

- Quando foi o primeiro show da banda?

Ithalo Silva: O primeiro show foi na praça da 13, no Dia da Mulher.

Emerson Bento: Teve uma passeata contra a vinda do Bush e contra Guantamo também, aí foi feito da praça dos Girassóis até a praça da 21 e de lá fomos para a 13 e fizemos o show. 

Ithalo Silva: O Epilepsia também tocou nesse dia. Aí assim começou.

-Inforock : Conte um pouco sobre a banda e suas formações.

Ithalo: Depois o Carniça saiu e o Thiago  Tubarão entrou, o Remo saiu. Aí começou um entra e sai.

Teve shows que a gente chamou amigos da gente pra tocar. Teve um show que foram 4 bateristas, o Thiago Menezes, o Renato , o Japonês e o Ithalo tocou uma também. E nessa brincadeira a gente teve que escolher, aí ficamos com o japonês que trouxe uma musicalidade diferente e acabamos optando por ele por morar perto e tal.

Emerson: Saí uma época também por problemas psicológicos, aí entrou o Juan no baixo.
Mata-Burro no Agosto de Rock de 2007. Foto: Arquivo Pessoal da banda
Inforock: Sobre as demos, o Split e a coletânea que a banda tem em sua discografia, vocês poderiam destacar alguma experiência interessante ou ruim a respeito das gravações?

Bento: Tem muita coisa legal, mas a primeira coisa de tudo é que ficou uma bosta a primeira demo (Calango Sobrevivente- 2007). Não tínhamos experiência nenhuma de estúdio, foi gravado com um cara que não tinha nenhuma experiência com rock. A música “ calango sobrevivente” nem foi gravada toda e a gente já toca tudo diferente do que gravamos

Em Terror e Redenção (2009), a gente já gravou em um estúdio melhor, o cara já sacava um pouco também.

Ithalo: A gente já tinha ideia do que queria também.

Bento: A gente gravou naquele esquema de ao vivo, ficou legal. Eu achei uma demo bacana que eu gosto de escutar até hoje.

Ithalo: A primeira demo, a gente fez assim, o cara ia falando e a gente ia fazendo o que ele falava. A segunda já foi mais na teimosia mesmo, a gente quer ruim mesmo, pode fazer. Aí a gente foi tomando mais ideia do que ia rolar.

A gente não gosta da primeira demo, mas para aquela época lá, acho que foi legal, entendeu?! Tipo assim, tem gente que gosta e tem quem não gosta. Quem gosta de som mais ogro, mais mal feito, gosta. Na primeira demo, a formação era eu (Ithalo), o Bento, o Magrelo, o Carniça e o Remo.

Bento: Aí veio a coletânea Rock Soldiers 13 (2008) que é uma coletânea nacional de um cara do sul do país,  que teve duas músicas do Calango Sobrevivente que era o . Depois teve o Ataque do Pequi Assassino Tour que a gente estava montando uma tour pra fazer norte e nordeste e a gente levou uma galera daqui, aí a gente acabou promovendo o som e fez um Split com três bandas que foi o Cranium Bash e o próprio Fast 4 Thrashers. O Mata- Burro tocou quatro músicas, o Fast 4 Thrashers  também e o Cranium três. Acabou que o Cranium não foi para a tour, tiveram problemas com a formação e trabalho, aí não foram.

Ithalo: Antes desse Split, é importante ressaltar que essa turnê era pra gente ter lançado um disco que a gente foi gravar em Brasília. Nessa ida para o DF, a gente achou que estávamos “ manjando” já de gravar, de alguma coisa, mas a gente só se deu mal. Passamos três para gravar a batera, porque o produtor que é o Phú (baixista) do Macakacongs, chegou e disse para o Japonês que estava tudo errado, mandou ele aprender a tocar as músicas de novo (Rs). Passou três ensaiando as músicas de novo.

Tubarão: A primeira da bateria, deu onze horas de gravação que é de uma música de  2 minutos.

Bento: Foi muito difícil, até porque o Japonês vinha de bandas pop. Nunca tinha tocado  hardcore, o do que a gente está falando que é do começo e ele nunca tinha tocado DFC, Ratos de Porão e outras bandas do gênero. Foi uma canseira do caralho, mas para o Mata-Burro foi muito bom, o salto de qualidade foi extraordinário. A gente começou  a tocar melhor depois dessa experiência que a gente teve.

Tubarão: Eu falo que ali que eu aprendi a tocar guitarra. Quando eu fui no Caga-Sangue, vi  Violator, Promessa Cigana e Dr. Living Dead, ali que eu comecei a ver como é que se toca guitarra. Até então eu não sabia nada.

Ithalo: Aí foi que foi o primeiro CD, mas acabou que não saiu, pode colocar na entrevista, o Phú não sabe gravar CD de ninguém não.

Bento: O que aconteceu também né, é que ficou apertado o nosso cronograma que era 15 dias e ficou faltando os vocais, e nessa de ficar faltando, deu problema no computador do Phú, perdendo guitarra e um monte que tinha gravado. O que aconteceu que a gente começou a tocar de um novo jeito e sentia que aquele material não era mais a gente e acabou que abandonamos esse projeto.

Ithalo: Foi a primeira vez que a banda entrou numa crise e quase acabou.

Tubarão: A gente ficou um ano e dois meses praticamente sem tocar. Ensaiamos e depois, um ano e pouco a gente voltou a ensaiar. Não era briga nem nada só acabou, deu um desânimo.

Ithalo: Aí agora teve a gravação com o Tadeu que saiu o nosso single e também a nossa primeira experiência com clipe ( " A regra é clara"), captação de imagem , que na verdade foi a segunda, pois teve uma história com o Caio ( Trade Rock) de  uma gravação de um clipe em Gurupi que até hoje não saiu, mas que ele disse que vai lançar (Rs).

Confira o clipe " A regra é clara":


Bento: Bem amador também, tem aquele vídeo que o Tadeu editou que a TV cedeu umas imagens que acabou virando nosso clipe na época que era da música “ protesto”.

Ithalo: Aí depois a gente teve a experiência com o Jerê (Idea Audio Studio) que vai sair em agosto que a gente conseguiu chegar aonde queríamos.

Tubarão:  A ideia desse CD ( O Preço da Vida) foi em dezembro de 2012 nas férias, a gente começou a ensaiar e falar em fazer música nova.


Conferindo as gravações do álbum " O Preço da Vida" (2014) no Ideia  Audio Studio.
 Foto: Arquivo pessoal da banda

Inforock- Fale sobre algo inusitado que aconteceu com a banda durante esses anos.


Thiago: Em 2009 na época que chegamos na demo Terror e Redenção, a gente tinha tanta ideia que tivemos que formar outra banda que era o Fastf 4Thrashers, que tinha o Miller na guitarra e na bateria era pra ser o Danihell, mas variava com o japonês.  A gente tocava com um lado thrash, aí o Ithalo “ não vai combinar com a banda, então vamos fazer uma outra banda”. Aí num dia lá, eu , Ithalo e o Miller resolvemos fazer o Fast 4Thrashers e começamos a tocar. As ideias que não cabiam no Mata-Burro, a gente jogava pra lá e como não tinha letra, fazia inglês, ninguém entende mesmo e toca.

Inforock: Vocês já tocaram no DF, Mato Grosso, Maranhão e em outros lugares do país, o que vocês tiveram de experiência dessas apresentações como músicos e de recepção do público? 

Ithalo: Cara, eu acho que a informação mais importante dessas experiências dessas tocadas que a gente fez fora, foi a gente aprender a escolher os shows, o que vai ser legal e o que não vai. Às vezes você tem um show de um mega festival que te chamam para ser só mais uma banda lá e o público não está adaptado a seu tipo de som e aí não é um bom show. Outras vezes tem um show de promovido por um amigo seu que faz “na maior raça” , um show menor que vai dar 100 a 300 pessoas no máximo que vai ser bem mais cabuloso, entendeu?! Então isso foi um detalhe bem importante que agora a gente procura fazer.

 A gente grava o material e não estamos mandando para gravadoras grandes, não queremos isso. A gente quer gravar e lançar pelas gravadoras dos “brothers” e quer que eles façam nossos shows, porque eles têm o mesmo sentimento que a gente tem na música.

Bento: Um recado para a molecada nova aí, não pensa em crescer o olho nesses festivais grandes, cara. Se você toca metal, junta com a galera que faz festival pequeno nesse seguimento. Em Cuiabá (MT) nós tiramos grana para ir tocar lá e foi de ônibus.

Ithalo: 32 horas de ônibus até lá.

Bento: Para tocar meia hora só. Sem contar que a gente ia tocar num dia que ia ser só banda indie, então não tinha público para a gente.  A gente foi tocar lá em Uberlândia (MG) e foi do caralho, foram só bandas de hardcore e tinha público preparado para isso. No domingo, meia-noite, estava lotado lá. O produtor conhecia a gente de internet e virou nosso amigo, pediu permissão para piratear nosso material antes, espalhou para a galera e sabiam cantar a música da gente. Levamos camiseta para vender e vendeu tudo. A mesma coisa aconteceu no lançamento do CD dos Maltrapilhos, a gente tocou com Macakongs, Galinha Preta e foi do caralho, pois foi direcionado e aconteceu no Porão do Teatro Dulcina, que é um lugar lendário do rock de Brasília e pra mim foram os dois melhores shows da minha vida.

Ithalo: Pra mim e pro Thiago, incluiria o show de Belém também. Era dentro de casa, um espaço assim que você coloca 30 pessoas e já está lotado e ia revezando as entradas e saídas, então foi bem doido. É um lugar que queremos voltar para tocar.

Tubarão: Tanto é que a gente pegou a ideia, um gancho de show em casa, e alugamos uma kitinet do Zé Ronaldo para fazer os Kitinet Thrash. A gente conseguiu fazer uns seis eventos e foi muito bom.

Ithalo: É legal isso, você não vai para o lugar e volta com a cabeça vazia, igual diz a música dos Racionais, “a palavra nunca volta vazia”, então se vê que é legal e aí você faz algo igual aqui, como não temos ninguém para ensinar a gente, vai aprendendo na tentativa.

1º Burrada Festival . Foto: Arquivo pessoal da banda

Inforock: Sobre o Burrada Festival, conte um pouco sobre o início festival e do decreto de luto do mesmo.

Bento: O Burrada nasceu assim, vamos fazer o aniversário de um ano banda, vamos chamar a galera pra tocar e foi assim. Chamamos na época, Boddah Diciro, Albion, Corell, Críticos Loucos e a banda do Cássio de Miracema, a Meros Berros. Teve um retorno tão bacana que a gente começou a fazer anualmente.

Ithalo: Vale a pena lembrar que isso do retorno bacana era na época que a galera de Palmas pagava para ir aos shows das bandas daqui e não para ver cosplay de banda como diz meu amigo Daniel, entendeu?! Então dava até para sustentar ali. O segundo Burrada já deu uma melhorada, eu só ajudava, pois a ideia mesmo foi do Bento que pode contar melhor.

Bento: Tomou uma proporção maior a partir do terceiro que veio bandas maiores como The Squintz (DF) e NervoChaos (SP) e  a gente começou a ser cobrado pelas bandas e público daqui, aí a gente começou a fazer mesmo. O que aconteceu é que o festival cresceu e fica aquela expectativa de vir banda grande e começou a dar o problema de dinheiro, o publicou começou a dar uma diminuída e começamos a tomar prejuízo. 

Teve um ano que a gente não fez, pois era ano eleitoral (2012) e eu não estava na banda também e quando eu voltei, a gente fez dois no mesmo ano para suprir um e o Ithalo chegou a fazer uma edição sozinho e tomou prejuízo para ficar esperto (Rs).

E assim, eu estou muito descrente de fazer outro por duas coisas: o nosso imposto que a gente paga não retorna pra gente em forma de incentivo a cultura e o público também está deixando a desejar. O último que a gente fez, trouxemos uma banda lendária com 35 anos de carreira, lá da Finlândia e deu menos de 50 pagantes, não dá pra sustentar e é complicado.

Ithalo: A minha ideia de Burrada, talvez nunca deu muito certo com a do Bento porque ele sempre foi pra esse lance de fazer algo maior, sabe?! E a galera cobrava e tal, ele tinha esperanças de dar certo. Eu, por mim, teria feito o Burrada sempre pequeno, um dia só e na garagem, que é o que gosto de fazer, mas não foi assim .

Bento: Até o terceiro não deu prejuízo, deu pra pagar com a bilheteria e sustentava o festival, depois do terceiro que o público não estava sustentando mais e a gente fica dependendo de governo e ele governa pra lá, não nos governa.

Ithalo: É o que eu falei, a galera que está lutando pela cultura é uma luta deles, a nossa a gente faz aqui contigo pedindo pra divulgar, com os nossos amigos de fora pedindo pra lançar nosso CD pelos selos deles, pedir desconto na gravação com seus amigos que tem estúdio e a outro pra dar espaço para ensaiar. Essa é nossa luta, mais pela amizade do que pela política, porque ninguém da política vai dar moral pra gente até porque falamos mal deles, então é até burrice se estender a mão pra gente.
Mata-Burro no Aquecimento para o Hard'n Metal (2013)

Inforock: Falem sobre a saída do Rodolfo, o Japonês, e como aconteceu a escolha do novo baterista da banda, o Maurício Sales (Heresia)?

Ithalo: O Maurício foi o seguinte, quando o Japa falou que ia ir embora, eu confesso que deu um desânimo na banda, todo mundo ficou, “e agora?”, porque o Japa entrou na banda sabendo tocar, ele não era ruim, mas sabia tocar os lances dele, o  pop, reggae e a gente nunca achou que ele tocar o que tocou. Depois que ele levou uma pressão do Phú lá em Brasília, ele aprendeu a tocar muito! Como ele tocava vários sons, ele trazia muita coisa de jazz e experimental para o Mata-burro, e isso foi legal, fizemos uma formação muito boa com esse batera. Aí quando ele falou que ia embora, ficamos naquela de “ e agora?” e pensamos, será que a gente deixa ele ir e ensaiamos uma vez no mês e tal, chegou a cogitar essa ideia, porque o disse já estava sendo gravado e ele que gravou o disco que vai sair agora, né?!

Aí a gente pensou, a gente vai deixar ele lá e marca três shows e nos encontramos um dia antes e faz esses shows pra ver até aonde a gente vai.  O que aconteceu é que percebemos que isso ia ser furada, aí vamos pro plano B. Pensamos, “quem é o moleque que gosta de hardcore, velho?”, aí a veio a cabeça o Maurício, e falamos “ aquele menino com aquele cabelo ali, velho...Ele sempre está bêbado nos shows,  ele erra os tempos, mas  toca direito, né”, aí o Tubarão que é o mais chato falou que ele erra demais os tempos, só que todo mundo entrou num consenso assim, ele gosta de hardcore, ele é fã da banda, querendo ou não, ele bagunçava os shows. Mais vale um moleque novo com gás, cabelo ridículo e que goste da banda do que ficar nessa.

Bento: A gente já tinha entrado em consenso que ia chamar ele, mas no último show com o Japonês, ele estava meio bêbado e caiu por cima dos pedais do Thiago e ele ficou roendo as mágoas até hoje, mas aí a gente falou, “beleza, passou, vamos chamar ele pra tocar “ (Rs).

Ithalo: Aí a gente estava finalizando a gravação, o Bento gravou uma parte das guias de batera e passou pro Maurício e quando ele veio tocar, ele podia não saber executar as paradas tipo o Japonês, mas ele decorou todas as músicas, inclusive o vocal e tal, então isso aí fez ele entrar na banda e criar uma admiração por ele. Querendo ou não, ele deu um gás novo pra banda.

Bento: E outra também, a outra banda que ele toca também, o Heresia, a molecada está elogiando muito o crescimento que ele teve em parar e escutar as músicas, tirar músicas com a gente, e no meu ponto de vista, até chegar o patamar do Japonês que ficou 5 anos com a gente, o moleque já está chegando e tem tudo pra ser um  ótimo baterista.

Inforock: Maurício, o que você tem a dizer sobre a sua entrada na banda?

Maurício: O que eu tenho a dizer é que eu estou muito feliz na banda, porque desde a primeira vez que eu escutei, eu sempre fui fã número um da banda e é um prazer muito grande estar tocando com eles agora. Uma banda favorita e do nada você acorda e está tocando com os caras é muito bom, né?!

Mata-Burro no Trator Fest (2013)
Inforock: Quais são as novidades da banda?

Ithalo: A novidade maior é o lançamento oficial do disco “ O Preço da Vida” em Palmas que vai ser no dia 16 de agosto, vamos também fazer um show no dia 15 ( Paraíso) e no dia 17 (Gurupi) em cidades vizinhas daqui, serão três shows no estado pra lançar esse disco. O Phú do Macakongs, querendo ou não, foi nosso mentor e chegou na gente pedindo pra levar eles para tocarem aqui, ele ia fazer uma prova aqui, aí decidimos fechar essa data do lançamento justamente pela facilidade de trazer a banda pra cá.

Bento: Uma coisa que a gente conseguiu justamente pelas viagens que a gente fez, uma inovação no estado, é que fechamos com quatro selos para lançar o CD, então a gente já entra com uma distribuição muito grande no Brasil. A gente fechou com dois selos do Pará, que vai lançar norte e deve lançar o nordeste também, fechamos com um selo em Brasília que vai cuidar da parte de lá e também com um selo de Goiânia, aí vai abrir esse leque de para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste que vai ser distribuído, e tem o Nausearréia  do Ithalo.

Ithalo: Fazer parceiragem com minhas cópias, eles mandando o disco pra cá, distribuímos aqui pra ver se galera abre o olho e começa a curtir umas bandas que a gente tem capacidade de ser fã e de ser amigo, porque ficar nessa de gostar só do Pink Floyd e Iron Maiden não dá, entendeu?! Porque os caras não estão nem aí pra você, é igual jogador de futebol, estão ganhando a grana deles e o resto que se foda (Rs). 

Mata-Burro no Trator Fest (2013)
Inforock: Muito obrigada pela entrevista. Queria que vocês falassem sobre o atual cenário do rock nacional e tocantinense.

Bento:  Está surgindo um movimento de renovação agora, ainda não está tão forte, mas, por exemplo, a banda Macakongs ligou o foda-se e está voltando pro underground, tocando no boteco, aqui e ali, e isso está acontecendo nacionalmente, talvez seja um ressurgimento de renovação pelo menos no hardcore que entendemos mais.

Ithalo: Eles se derem muito mal com a coisa de festivais e aprenderam também junto com a gente que era uma banda nova, bandas mais velhas viram que os produtores de grandes festivais, assim, eu não estou generalizando, mas tinha muito cara que estava colocando banda só pra cumprir tabela.
Bento: Não tinha aquele compromisso de levar a banda porque tem um som legal, tocar num horário bom pra ter seu público, o produtor ganhava o edital ali e executava.

Ithalo: Querendo ou não, eu estou achando que essa renovação está acontecendo aqui em Palmas, porque a galera se pergunta “ cadê as bandas?”, pois aqui já teve tanta banda e você não vê mais, só que esse ano, do que eu sei que está gravando tem a gente que vai lançar, Heresia que lançou webclipe, Trator está ensaiando, Críticos Loucos está gravando CD, The Koopers também, entendeu?! Eu acho que vai ter um boom nessa cena no final do ano e começo do outro, daqueles que a gente lembra do começo da Mata-Burro e que tinha o Epilepsia, o Anorexia e shows só de metal que a galera trazia as pessoas para verem os shows das bandas de rock daqui, então eu espero e acredito que isso vai acontecer.

As pessoas chegam e perguntam “E aí como é que faz o show?”, então mano, a gente faz assim, eu te arrumo um cubo, a minha arruma tal cubo, então a outra a batera. Se a galera colocar na cabeça que é essas bandas que precisam agir, fazer shows na casa ou no bar do amigo, e fizer, acho que isso tem tudo pra crescer e a gente ter uma explosão, saca?! Pois quem sustenta essa parada é a molecada mais nova, que tem sangue no olho e que vai. O cara que vai ficando mais velho casa, vira crente, tem que trabalhar e não tem dinheiro mais pra tirar de casa e gastar com banda e vai ficando mais difícil.

Bento: Isso na literatura é despesa.

Ithalo: Então, a crença pra mudança é nas bandas mais novas.

Bento:  A gente é precursor na ideia, desde a Kitinet Thrash, do domingão no Porkão, do Burrada e a Rua se Mistura, nós começamos a fazer meio que instintivo, querendo abrir espaço para fazer o nosso rock e chamando a galera quem fosse embarcando, andar com as pernas próprias. Tem meninos correndo atrás e perguntando , “ Bento como é que faz isso?”,  inventa uma rifa, um bingo, vende camiseta e correr atrás, a internet também é uma ferramenta, é o que esperamos da molecada nova. Não dá pra ficar esperando um ano pra tocar no Tendencies, no PMW Rock Festival ou no Burrada. Ensaiem, levem seu cubo, vamos tocar, fazer um esquema na sua casa, essas coisas.

O meu primeiro contato com o Weslley do Heresia foi que ele arrumou um quintal pra gente tocar lá e foi do caralho, na vila união. Quem vê de longe e acha que vai virar rockstar, não queira um negócio desses, isso não cria escola, nem gera amizade que fomenta o rock. A galera esqueceu a garagem, tem que voltar pra garagem.

Fui nos EUA e não tem mais bandas de garagem, é só banda profissional, com o puta equipamento e não sei o quê high tech pra caralho, estão esquecendo justamente o que o Ithalo estava falando, o sangue no olho.

Ithalo: uma porrada de banda igual que estoura, não é só no rock não, vamos falar de hardcore, porque as bandas querem tocar e vestir igual, ser de Nova Iorque e pegar uma fórmula e chegar lá, mostrar pra um produtor e pedir pra tocar. Não estão mais abrindo o olho pra ideia do hardcore que é ele mesmo fazer ali.

Bento: Que é a ideia do rock, um grande soco na sociedade, um protesto, uma forma de se rebelar contra o sistema, então está morrendo isso aí.

Ithalo: Quando você depende dos outros, você não vai fazer o que você quer, a real é essa.



Discografia:

Demos:

Calango Sobrevivente – 2007
Terror e Redenção – 2009

Coletânea:

Rock Soldier XIII – 2008

Split:

O Ataque do Pequi Assassino Tour – 2010 (Tri-Way)

Álbum ( a ser lançado):

O Preço da Vida - 2014


Contatos:

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